Deus criou-me para criança, e deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos, e me deixasse só no recreio, amarrotando com mãos tão fracas o bibe azul sujo de lágrimas compridas? Se eu não poderia viver senão acarinhado, por que deitaram fora’ o meu carinho? Ah, cada vez que vejo nas ruas uma criança a chorar, uma criança exilada dos outros, dói-me mais que a tristeza da criança o horror desprevenido do meu coração exausto. Doo-me com toda a estatura da vida sentida, e são minhas as mãos que torcem o canto do bibe, são minhas as bocas tortas das lágrimas verdadeiras, é minha a fraqueza, é minha a solidão, e os risos da vida adulta que passa usam-me como luzes de fósforos riscados no estofo sensível do meu coração.
----Bernardo Soares----
Ajudante de Guarda-Livros da Cidade de Lisboa.
"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."
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1 comentário:
Gato quer brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes.
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim.
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim.
Conheço-me e não sou eu!
F.P.
Espero que estejas bem. Fred retornou ontem - magro, sujo e nervoso.
E a tosse persiste, bem como o suor noturno...
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