"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Íntimo.


Agi sempre para dentro. Nunca toquei na vida. Sempre que esboçava um gesto, acabava-o em sonho, heroicamente. Uma espada pesa mais que a ideia de uma espada. Comandei grandes exércitos - venci grandes batalhas, gozei grandes derrotas - tudo dentro de mim.
Gostava de passear sozinho pelas alamedas e pelos grandes corredores e de comandar as árvores e desafiar os retratos das paredes. No grande corredor sombrio que há ao fundo do palácio passeei com a minha noiva muitas vezes; Eu nunca tive noiva real; Nunca soube como se amava; Apenas soube como se sonhava amar. Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos é que às vezes queria julgar que as minhas mãos eram de princesa e que eu era, pelo menos no gesto das minhas mãos, aquela que eu amava.
Um dia foram-me encontrar vestido de rainha, eu estava sonhando que eu era a minha esposa régia. Gostava de ver a minha face reflectida porque podia sonhar que era a face de outra criatura - porque era de formas femininas, que era de minha amada que era a face reflectida. Quantas vezes a minha boca, tocou na minha boca nesse espelho! Quantas vezes apertei uma das mãos com a outra, quantas adorei meus cabelos com a minha mão / alheada / para que parecesse dela ao tocar-me. Não sou eu que te estou dizendo isto... É o resto de mim que está falando.

1 comentário:

Sabrina disse...

De quem é esse texto?
bjss