"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Descaminho.


As coisas mais simples, mais realmente simples, que nada pode tornar semi-simples, torna-mas complexas o eu vivê-las. Dar a alguém os bons-dias por vezes intimida-me. Seca-se-me a voz, como se houvesse uma audácia estranha em ter essas palavras em voz alta. É uma espécie de pudor de existir - não tem outro nome!

A análise constante’ das nossas sensações cria um modo novo de sentir, que parece artificial a quem analise só com a inteligência, que não com a própria sensação.

Toda a vida fui fútil metafisicamente, sério a brincar. Nada fiz a sério, por mais que quisesse. Divertiu-se em mim comigo um Destino malin.

Ter emoções de chita, ou de seda, ou de brocado! Ter emoções descritíveis assim! Ter emoções descritíveis!

Sobe por mim na alma um arrependimento que é de Deus por tudo, uma paixão surda de lágrimas pela condenação dos sonhos na carne dos que os sonharam... E odeio sem ódio todos os poetas que escreveram versos, todos os idealistas que fizeram ver o seu ideal, todos os que conseguiram o que queriam.

Vagueio indefinidamente nas ruas sossegadas, ando até cansar o corpo em acordo com a alma, dói-me até aquele extremo da dor conhecida que tem um gozo em sentir-se, uma compaixão materna por si-mesma, que é musicada e indefinível.

Dormir! Adormecer! Sossegar! Ser uma consciência abstracta de respirar sossegadamente, sem mundo, sem astros, sem alma - mar morto de emoção reflectindo uma ausência de estrelas!

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