Quando acordei o sol já estava erguido fora com todo o seu explendor para uma manhã iluminada de fevereiro, sob este dia deixei a minha casa e encarei a vida logo no acelerar da motocicleta pela rua, em direção a mais um dia de trabalho no laboratório, como uma folha carregada pelo vento que foi varrida pelo solo, e erro, entre os acontecimentos casuais da paisagem.
As pessoas seguem suas vidas em seus trabalhos, o varal de roupas é levantado, como também as portas das lojas do comércio, e o seu Álvaro vem vender à porta do hospital seus biscoitos, inclusive, com cobertura de chocolate meio amargo.
Contento-me, afinal, com muito pouco. Tudo isso que parece pouco é uma vida intensa para mim, cada cor, cada som, cada temperatura, cada sabor me faz sentir vivo. E me senti feliz por não me sentir infeliz, sair despreocupadamente, cheio de certeza porque o laboratório conhecido, com gente conhecida e tarefas a executar, são certezas. Assim, me senti livre. E os biscoitos de chocolate meio amargo desmancham ao serem embocados.
Sou eu verdadeiramente nesta eternidade casual e simbólica do estado de meia-alma em que me iludo. Uma ou outra pessoa olha-me como se me conhecesse e me estranhasse. Sinto que os olhos também com órbitas sentidas sob pálpebras que as roçam, e não quero saber de haver mundo.
Quero saber das coisas simples da vida, das sutilezas, dos detalhes, das pequenas coisas que fazem grandes diferenças, que abraço com o meu ser. E também estar com o gosto meio-amargo do chocolate que realça o doce da vida.
Foto: Amsterdam, autor desconhecidos.