"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Recordações do Morro dos Ventos Uivantes


Não posso olhar para este chão sem que veja as suas feições recortadas nas lajes! Em todas as nuvens, em todas as árvores. . . enchendo o ar, à noite, e refletida em todos os objetos, durante o dia, eu vejo a sua imagem! Os rostos mais comuns de homens e mulheres, os meus próprios traços traem-me com uma semelhança. O mundo inteiro é um terrível álbum de recordações a provar que ela existiu e que eu a perdi!

Heathcliff - O Morro dos Ventos Uivantes.

terça-feira, 11 de maio de 2010

E Preciso.


Põe-me as mãos nos ombros...
Beija-me na fronte...
Minha vida é escombros,
A minha alma insonte.

Eu não sei por quê,
Meu desde onde venho,
Sou o ser que vê,
E vê tudo estranho.

Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.


Versos: F. Pessoa;
Foto: Anônimo - Cidade de Havana

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Descaminho.


As coisas mais simples, mais realmente simples, que nada pode tornar semi-simples, torna-mas complexas o eu vivê-las. Dar a alguém os bons-dias por vezes intimida-me. Seca-se-me a voz, como se houvesse uma audácia estranha em ter essas palavras em voz alta. É uma espécie de pudor de existir - não tem outro nome!

A análise constante’ das nossas sensações cria um modo novo de sentir, que parece artificial a quem analise só com a inteligência, que não com a própria sensação.

Toda a vida fui fútil metafisicamente, sério a brincar. Nada fiz a sério, por mais que quisesse. Divertiu-se em mim comigo um Destino malin.

Ter emoções de chita, ou de seda, ou de brocado! Ter emoções descritíveis assim! Ter emoções descritíveis!

Sobe por mim na alma um arrependimento que é de Deus por tudo, uma paixão surda de lágrimas pela condenação dos sonhos na carne dos que os sonharam... E odeio sem ódio todos os poetas que escreveram versos, todos os idealistas que fizeram ver o seu ideal, todos os que conseguiram o que queriam.

Vagueio indefinidamente nas ruas sossegadas, ando até cansar o corpo em acordo com a alma, dói-me até aquele extremo da dor conhecida que tem um gozo em sentir-se, uma compaixão materna por si-mesma, que é musicada e indefinível.

Dormir! Adormecer! Sossegar! Ser uma consciência abstracta de respirar sossegadamente, sem mundo, sem astros, sem alma - mar morto de emoção reflectindo uma ausência de estrelas!