"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

domingo, 10 de maio de 2009

Do Subterrâneo.


Sou um homem doente... Sou mau. Nada tenho de simpático. Julgo estar doente do fígado, embora não o perceba nem saiba ao certo onde reside o meu mal. Não me trato, e nunca me tratei, por muito que considere a medicina e os médicos, pois sou altamente surpersticioso, pelo menos o bastante para ter fé na medicina. (Possuo instrução suficiente para não ser surpersticioso e, no entanto, sou... ) Não, se não me trato é por pura maldade; é assim mesmo. O senhor não compreenderá isto, por acaso? Pois compreendo-o e basta. Não há dúvida de que eu não conseguiria explicar a quem prejudico neste caso, com a minha maldade. Compreendo perfeitamente que, não me tratando, não prejudico a ninguém, nem sequer os médicos; sei melhor do que ninguém que só a mim próprio prejudico. Não importa; se não me trato é por maldade. Tenho o fígado doente? Pois que rebente!

Memórias do Subterrâneo
Fiódor Dostoievskiy.

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