"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

domingo, 7 de novembro de 2010

intervallo desconexo.


Nesta página negra desenho, com minhas mãos incertas, os caminhos mais íntimos que me destino. São formas abstratas, sem sentidos, palavras simples e distantes que descrevem minha vida descontínua, minhas incoerências mais admiráveis, meu pequeno cotidiano, e as aléas, monstros, montanhas, e ruas desertas dos meus sonhos.

Neste blogue estão os rabiscos da minha inconsciência de mim. Traço-as num tédio diante do laptop, como um gato ao sol, e releio-as, por vezes, com um vago pasmo tardio, como o de me haver lembrado de uma coisa que sempre esquecera.

Quando cá estou, olho-me diante do espelho e vejo as salas especiais, recordadas por outrem em interstícios da figuração, onde me deleito analisando o que não sinto, e me examino como a um quadro na sombra.

Perdi, antes de nascer, o meu castelo antigo. Foram vendidas, antes que eu fosse, as tapeçarias [d]o meu palácio ancestral. O meu solar de antes da vida caiu em ruína, e só em certos momentos, quando o luar nasce em mim de sobre os juncos do rio, me esfria a saudade dos lados de onde o resto desdentado das paredes recorra negro contra o céu de azul escuro esbranquiçado a amarelo de leite.

Porque aqui é como se estivesse esfarrapado, com todas as minhas cicatrizes à mostra, e à repulsar.

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