"Teu amor pelas cousas sonhadas era teu desprezo pelas cousas vividas."

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Paragem, zona



Tragam-me esquecimento em travessas!
Quero comer o abandono da vida!
Quero perder o habito de gritar para dentro.
Arre, já basta! Não sei o quê, mas já basta...
Então viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje?
Viver amanhã por ter adiado hoje?
Comprei por acaso um bilhete para esse espectaculo?
Que gargalhadas daria quem pudesse rir!
E agora apparece o eletrico – o de que eu estou á espera –
Antes fosse outro... Ter de subir já!
Ninguem me obriga, mas deixal-o passar, porquê?
Só deixando passar todos, e a mim mesmo, e á vida...
Que nausea no estomago real que é a alma consciente!
Que somno bom o ser outra pessoa qualquer...
Já comprehendo porque é que as creanças querem ser guarda-freios...
Não, não comprehendo nada...
Tarde de azul e ouro, alegria das gentes, olhos claros da vida...


Versos: Álvaro de Campos.
Foto: autor desconhecido, local: Galápagos.

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