“(...) Slimane, companheiro dos dias de infortúnio, sabe tão bem quanto eu que os últimos momentos da noite são estranhamente difíceis. Nenhum abraço chega para atenuar a dor da separação.
Quando o teu corpo está ausente, Slimane, pergunto-me que caos terrível irromperá de mim. Em que lugar destas terras, desta aridez da alma, terei a possibilidade de morrer por enjoo de tudo?
A vida, aqui, é monótona e triste - feita à margem das estrelas de areia que vão serpenteando até o árido horizonte as engolir.
Uma espécie de miséria escorre, gota a gota, dentro de mim. Sinto-me como o viajante que observou os homens e as coisas, e prosseguiu viagem sem deixar rasto - sabendo que, também ele, se apagará da face da terra.
Continuo a procurar o silêncio e a paz. Mas o amor não passa de inquietação, e a beleza dos seres é efémera.
Aprendo a passar por eles, a olhá-los atentamente para poder esquecê-los.
A vida, afinal, talvez seja uma encenação do desespero. Aïn-Sefra desaparece na fúria das lamacentas águas. Faltam-me as forças para fugir daqui. Uma língua de fogo atinge a mão que escreve.
O meu corpo será encontrado sob os escombros. Aquela que viveu no lume das areias morrerá afogada. Mas enquanto o destino não se cumpre, puxo as rédeas a Ziza, acendo um cigarro, e cavalgo em direcção a lado nenhum.”
Texto: Al Berto
Foto: E. Ferreira
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